Resenha Crítica Sobre a Evangelização e Colonização no Brasil
Percebemos diversos períodos começando com a fase da “Tabula Rasa”, onde acreditava-se que as culturas locais a serem colonizadas estariam contaminadas pela ignorância , imoralidade e feitiçaria. Depois veio o período considerado como Conceito do Único Modo- teoria de envolver os indígenas como sujeitos ativos da evangelização e não como meros objetos da caridade, doutrina e catequese. Desconhecia-se fronteiras. A pregação cristã havia atingido todas as nações , mas não todas as pessoas.
Os ciclos missionários seguiam as pegadas do projeto colonial português, e a evangelização tinha se tornado sinônimo de opressão e escravidão. O padroado do Brasil, definia-se pelo percurso financeiro. O governo tinha o direito de cobrar o dízimo mas deveria por outro lado sustentar o culto. Tratava-se de um roubo institucionalizado: as riquezas do Brasil só voltam em forma de favor. Os ciclos missionários foram criados, tiveram dinamismo e florescimento, depois se estabeleceram e acomodaram.
No Brasil, os Jesuítas instalaram o assim chamado modelo de colégio-aldeamento. Os aldeamentos dependiam dos colégios onde se ensinava e catequizava. Os capuchinhos trouxeram o método e a teologia no Concílio de Trento. E por fim surge o movimento dos Ermitães que procurava resgatar a oração não como verbalização e sim como meditação. Acentuava a revalorização do sacramento da penitência e pregava uma vida austera em oposição ao luxo. Diante do perigo dessa religião popular ocorreu a intervenção do sistema eclesiástico que repreendeu este movimento. O bispado é o sinal mais claro disso. Quando o clero assumiu o controle da igreja, a dimensão missionária se perdeu.
Reflitamos um pouco sobre a herança deixada pela nossa história evangelizadora, que influencia inda em pleno século XXI , as nossas práticas eclesiásticas. Evangelizamos o povo ainda muitas vezes como e estivéssemos diante de pessoas iletradas, que não nos argumentarão, e que sequer possuem uma cosmovisão de Deus , do mundo e da Igreja. Precisamos entender que as pessoas estão aí debatendo , falando, questionando mesmo que de forma errada, a respeito de Deus que não se origina na Igreja, na nossa Teologia e nem no nosso mundo eclesiástico, ele está além de tudo isso. O nosso Deus é o Deus das nações, mesmo que nos refiramos a Ele como o nosso Deus.
Em um período a evangelização assumiu o caráter de colonização, tornando-se agressiva e opressora, roubando das pessoas o direito que Deus mesmo criou de serem livres, inclusive para escolher servi-lo ou não. Essa relação Estado – Igreja, nunca deu certo porque os princípios que os regem são diferentes e conflitantes entre si. Hoje nós absorvemos atitudes que nos levam ao tempo dos colonos, tentamos eleger nossos defensores da fé e esperamos como membros da Coroa os favores como troca. Pregamos uma vida austera em oposição ao luxo, e muitas vezes queremos assumir simultaneamente a nossa função clerical, combatendo em nome de uma Teologia da prosperidade a existência de pobres, como se isso fosse pecado. O problema é que se assumirmos essa postura, que antes fora a razão do fracasso de muitos e hoje se constitui a vergonha de nossa herança cultural e religiosa, podemos ainda perdermos a dimensão missionária. Mais do que isso, perdemos a dimensão de Deus em nossa missão. O pior de tudo é se descobrirmos lá na frente, que colonizamos ao invés de evangelizarmos, escravizamos os outros e não os libertamos em Cristo e por fim assumimos uma função mais luso- brasileira do que evangélica. Que Deus nos abençoe.
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