O Suicídio Da Fé
Émile Durkheim, autor francês, escreveu em 1987, a obra intitulada “ O Suicídio”. O objetivo central desta obra, é tentar entender os fatores sociais, que contribuíram, para que o indivíduo, chegasse a pôr fim em sua própria vida. Prosseguindo em suas pesquisas, Émile aponta a existência de três tipos fundamentais de suicídio: o altruísta, o egoísta e o anômico.
O altruísta, ocorre em situações, em que o indivíduo mantém estreita relação de dependência da sociedade e se sente devedor, ao grupo a que pertence. Exemplo disto é o soldado de guerra que prefere a morte à humilhação da derrota.
O egoísta, resulta da individualização, onde afrouxado os laços com a sociedade, o indivíduo prefere o isolamento e total descomprometimento com as normas sociais. E, por fim, o anômico, onde o indivíduo se vê, despreparado para enfrentar as grandes transformações e crises sociais, provocando nele em contrapartida uma completa inadaptação do indivíduo à sociedade.
Analisando a vida cristã e o comportamento de algumas pessoas, posso dizer, que estes três tipos de suicídio social, ocorrem na vida de fé, de muitas pessoas. É o suicídio da fé!
O altruísta, ocorre quando a relação do homem com Deus é afetada, pelas duras perdas na vida de fé, e que resistem ao caminho da humilhação. Preferindo a morte, da fé. Isto pode ser definitivo ou momentâneo, geral ou circunstancial. Quando Jesus propôs, ao jovem rico, abandonar tudo e segui-lo, o jovem ao defrontar-se com as exigências de renúncia do Reino, perdeu a batalha. Recusando-se humilhar, vendendo tudo que possuía e dar aos pobres, retirou-se triste e em relação a caminhar seguindo a Jesus, preferiu deixar morrer a sua fé. O grupo a quem ele pertencia, de ricos, proprietários de muitas riquezas, não aceitava, a simplicidade, a suficiência para cada dia, isto era mais vergonhoso para aquele jovem do que dizer não ao apelo do Mestre. Vemos isto em Marcos 10:17-22.
O suicídio egoísta, acontece a partir do momento em que nos tornamos individualistas, recusando-nos a manter qualquer vínculo, coletivo com o próximo ou comprometimento com as normas da fé. È o instante, em que nos fechamos para não querer ouvir; onde nos isolamos na nossa espiritualidade e tomamos o caminho dos escribas e fariseus, criticando a conduta dos que insistem em formar pontes de relacionamento. Jesus foi um homem, que penetrou à sociedade, sem se deixar contaminar, pelos pecados da sociedade. Os indivíduos que cultivam sua fé, no oculto, em torno de si mesmo, num mundo inacessível, perdem de causar influências, criam uma visão distorcida do que significa ser santo e se priva de conhecer o poder libertador do Evangelho, além dele mesmo. “E murmuravam os fariseus e os escribas, dizendo: Este (referindo-se a Jesus) recebe pecadores e come com eles”Lucas 15:2. A fé, o Evangelho, precisam penetrar nos lugares mais escuros, gerar pregadores que brilhem nas trevas e trazer pecadores arrependidos. Estes são os feixes formados de lágrimas missionárias, dos quais a Bíblia se refere no Salmo 126.
Por fim, encontram-se os suicidas anômicos, que após envolverem-se com Deus um dia, não suportaram as injustiças humanas praticadas nas instituições religiosas, causando feridas profundas em corações ainda sensíveis; outros que resolveram crer a todo custo , num céu na terra, que viram homens como semideuses e classificaram a Igreja como uma antesala do trono de Deus, e todos se decepcionaram! Alguns suicidaram a sua fé, quando não conseguiram desvendar todos os mistérios da fé, esbarraram na soberania de Deus, e diante das crises existenciais “decepcionaram-se” com o deus, formado em sua visão limitada e imperfeita. Ainda, morreram na fé, os que criaram expectativas acima do que Deus lhes prometera, tentaram viver uma Teologia imediatista, capitalista e ilusionista, quando se prometeu riquezas e logo se descobriu, que morava no mesmo lugar simples, e ao invés de caviar, continuava comendo arroz e feijão, o que em nada é desonroso! Estes descobriram que o Evangelho, não é a varinha mágica, que colocaram em suas mãos ou o pincel irresponsável que pintou um mar de rosas e escondeu os espinhos!
Como toda tragédia nos leva automaticamente a refletir! Concluímos que o suicídio da fé, não somente matou a comunhão com Deus, mas tirou a esperança da vida e nos roubou o caminho das soluções sobrenaturais de nossas crises existenciais. Bem longe, desse mundo sombrio, solitário e silencioso, queremos dizer, que ao contrário, desta morte precipitada nos julgamentos errados que fazemos dos homens e de Deus, está a vida!
Lembre-se que o Autor da vida, passou pelo caminho da humilhação, desejou não passar pela morte, ao pedir ao Pai, que tomasse o cálice, porém, enfrentando cada crise, pôde bradar num ato de vitória, “Está consumado”! Celebremos, então, a vida! Que exige a única morte, que é, a do ego. Aos que já mataram a sua fé, resta a esperança de ressuscitar a fé, no Deus que te criou para o louvor de Sua glória! Que Deus nos abençoe!
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